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Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

30
Ago24

Varsóvia

Luisa Brito

Varsóvia, capital da Polónia, é uma cidade moderna reconstruída depois da Segunda Guerra Mundial. De facto, Varsóvia foi praticamente destruída e boa parte da sua população dizimada. Logo de início, o monumento à revolta de 1944, em que o Exército clandestino Polaco tentou libertar Varsóvia do controlo da Alemanha Nazi.

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Começámos pela Cidade Velha, Stare Miasto, cercada por parte das muralhas antigas (Barbican), com a sua Praça principal.

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Na praça, o Castelo Real data de 1974, já que o original foi destruído em 1944. O renascimento da Cidade Velha dos escombros da Segunda Guerra Mundial continua a ser símbolo de renascimento nacional. Desde 1980, a Cidade Velha de Varsóvia está inscrita na lista do Património Mundial da UNESCO, como um exemplo único de reconstrução total de uma zona histórica quase completamente destruída. Na Praça, a Coluna do Rei Zygmunt que transferiu a capital da Polónia de Cracóvia para Varsóvia.

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Outra praça com a Fonte da Sereia. O rio Vístula, como em Cracóvia, também aqui em Varsóvia, atravessa a cidade. Uma pequena faixa de areia, faz lembrar que Varsóvia (quase) tem praia.

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Fora da Cidade Velha, edifícios art déco, barroco e, claro, muitos no estilo arquitetónico soviético. A Polónia foi ocupada pela antiga União Soviética do final da Segunda Guerra Mundial até 1991. O símbolo maior dessa ocupação é o Palácio da Cultura e da Ciência (1955). Talvez por isso, os polacos não apreciem este edifício, como me confessou um Polaco que viajava no mesmo comboio Cracóvia-Varsóvia.

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Cracóvia já o é, mas Varsóvia é uma cidade ainda mais verde.  O Parque Lazienki, a cerca de 3 Km da Cidade Velha, foi alcançado à medida que fomos descendo pela Nowy Swiat, a avenida mais bonita e charmosa de Varsóvia, com os seus cafés e restaurantes (porta sim, porta sim) e igrejas centenárias.

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À medida que nos afastamos da Cidade Velha, a avenida torna-se menos charmosa, mais moderna, com as suas estacões de metro com os logos típicos. Passamos pelo Monumento de Copérnico, pela igreja da Santa Cruz (a Polónia é um país fortemente católico).

 

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Com quase 80 hectares de extensão, o Parque Real Lazienki é o maior parque de Varsóvia. Dentro há um jardim botânico, um teatro, vários palácios e a escultura mais famosa de Frédéric Chopin. Ademais, Chopin está em todo o lado, a começar pelo Aeroporto Internacional de Varsóvia Frédéric Chopin. Até alguns bancos das praças (bancos do Chopin) que têm um botão que, quando tocado, permite escutar melodias de Chopin.

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Varsóvia conta muita História e muitas histórias. De um povo muito sofrido, com ocupações constantes e que, por isso, tão bem compreende e de pronto se solidarizou com os vizinhos Ucranianos. Varsóvia não desilude.

28
Ago24

Cracóvia

Luisa Brito

Cracóvia é uma cidade medieval de luz mágica. Stare Miasto, a Cidade Velha, é uma rede de ruas e praças que constituem o centro histórico medieval. As ruas Florianska e Grodzka passam pela Praça do Mercado (Rynek Glowny) e terminam no Castelo de Wawel, donde se pode prosseguir até ao antigo Bairro Judeu, Kazimierz.

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Rynek, talvez a maior praça medieval da Europa, no coração de Cracóvia, com as suas esplanadas, está rodeada de magníficos edifícios de estilo gótico, renascentista, barroco e art nouveau, incluindo a bela Basílica de Santa Maria, uma catedral gótica do século XIV, com as suas duas torres de alturas diferentes. Na torre mais alta, a Hejnalica, “hejnal” é uma melodia tocada a cada hora certa, para se interromper bruscamente, homenageando o trompetista assassinado no séc. XIII, quando avisava a população da invasão da cidade.

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Logo de manhã, carrinhos de flores, vendedoras de obwarzanek, o bagel polaco coberto de sal, e vendedores de outras bugigangas são um convite para os olhos e para o palato.

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Também nas cercanias, a torre do relógio da antiga Câmara Municipal medieval e o charme de Maly Rynek (Praça do Pequeno Mercado). As filas de inúmeras carruagens puxadas por belos cavalos, a Porta de São Floriano, um dos oito portões das muralhas que davam entrada na cidade, tudo isto e muito mais.

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Kazimierz, onde se situava o antigo gueto de Cracóvia, com as suas sinagogas coexistindo com igrejas católicas, como a Basílica do Corpus Christi. Visitámos a Sinagoga Remuh, a menor mas, talvez a mais movimentada das sinagogas de Kazimierz. Decorria uma celebração por Judeus Ortodoxos.

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Ao lado, o Cemitério de Remuh é um dos mais antigos cemitérios judaicos da Europa. Acho muito belos os cemitérios Judeus. As pedrinhas colocadas por cima das lápides são duradouras e resistentes, como a memória do falecido que deve perdurar no tempo.

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O Castelo Real, na colina de Wawel, com vista sobre o rio Vístula, onde se encontra também a Catedral de Wawel (São Estanislau e São Venceslau), provavelmente a mais importante Catedral Polaca, mas com visita paga.

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Vimos muito mais, provámos muito mais em restaurantes e cafés acessíveis aos Portugueses. Os pierogis (dumplings da Polónia), muitos doces por todo o lado e outras iguarias servidas em espaços muito trendy.

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Andámos e vimos muito mais e o blog é, também, um ótimo registo para a minha fraca memória futura.

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12
Jul24

A indiferença

Luisa Brito

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Imagem da internet

 

Há poucos dias, estava eu numa loja de uma grande superfície comercial, quando entra uma garotinha, para aí de sete ou oito anos, a chamar pela mãe. A mãe não estava na loja e a garota saiu, como entrou, correndo. Após uma brevíssima troca de olhares com uma funcionária, que me encolheu os ombros, saí eu também disparada atrás da menina. “procuras a mãe, minha querida?” E o rostinho já transtornado, ilumina-se naquela hora “está ali o meu pai!” e saiu correndo ao encontro. Depois de me certificar que estava bem, regressei à loja e fiz o resumo à dita funcionária. “sabe o que é que os pais nos dizem se, numa situação destas, chamamos o segurança? ”não tem nada com isso. meta-se na sua vida!” Não sei, e pouco me importa, o que diriam os pais. Sei sim que o dever de cada um de nós, nestas circunstâncias, é prestar apoio imediato à criança. Prestar auxílio a quem é(está) mais frágil.

E vieram-me à ideia outras situações de indiferença, até mesmo laborais quando, não sendo nada connosco, encolhemos os ombros como aquela funcionária, e fazemos que não vemos ou que não sabemos, não vá acontecer que a nossa atitude nos possa de algum modo prejudicar…

Por vezes, esta indiferença pode mesmo resvalar para a segregação. Não quero ter nada a ver com o outro que é diferente de mim, na cor, no credo, na orientação sexual, no status.

E, no final do dia, quando pousamos a cabeça no travesseiro?...  

Há um texto de um alemão Martin Niemöller (1892-1984), crítico da indiferença do povo alemão perante a política nazi de extermínio. Este texto (uma das suas muitas versões) fala da indiferença dos que preferem fazer de conta que não sabem. A indiferença dos que lavam as mãos como Pilatos.

"Primeiro levaram os comunistas, eu calei-me, porque não era comunista. Quando levaram os sociais-democratas, eu calei-me, porque não era social-democrata. Quando levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque não era judeu. Quando me levaram, já não havia quem protestasse".

07
Jul24

A menina que queria tocar a lua

Luisa Brito

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A menina que queria tocar a lua. E ao lhe fazer ver que era impossível, que a lua estava muito longe, logo a resposta na ponta da língua “não faz mal, tu pões uma escada”. E, perante esta confiança absoluta, mais certezas tinha eu de que ser mãe é, de algum modo, ser escada entre os filhos e o infinito… E era ela que o declarava, e na pele, ”mãe, gosto de ti até ao céu e ao mundo inteiro.”

A menina que queria tocar a lua, de lágrima fácil, na tristeza e na alegria. Por vezes, quando a recolhia da escola, bastava eu perguntar “o que foi filha?” Todo o dia à espera que eu chegasse, “tive satisfaz!...” e rompia em soluços, verdadeiramente inconsolável. Ou quando lhe fizemos a surpresa com a gatinha Luna, que ela tanto desejava. Os olhos num piscar, de um rio para um mar de alegria. Houve uma única vez em que o pranto se avermelhou. E logo a minha mãe a soprar-me “levanta-te. lembra-te, és escada.”

A menina que queria tocar a lua cresceu. E entre missões e encenações, o destino da menina cruzou-se com o do rapaz. Numa estreia, cada um no seu papel. Ele de caracóis, ela de mulher fatal. Eu a cumprimentar o actor e o actor a elogiar a colega. E eu sem dizer nada... “Oh mãe, não inventes, somos só amigos.” E depois, no passeio às Ásias. E eu sem dizer nada... E ela já incomodada “Oh mãe, somos só amigos!” Mas um dia…., “Mãe, tenho uma coisa para te dizer. Mas tu já sabes….” E no rádio, os Quatro e Meia “ …/Mas por muito que eu o negue….”.

Vêm-me ao ouvido os acordes da canção “Lucky I'm in love with my best friend” e, também, estes versos de Adélia Prado:

"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, que pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
Ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva."

 

14
Ago23

Os Jovens

Luisa Brito

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Toda a minha vida tenho estado entre jovens. É um privilégio porque, de algum modo, o convívio com jovens mantém-nos jovens. Bem, em regra. Alguns de nós saltaram essa estação à nascença…. Muito se falou, se escreveu e falará e escreverá sobre as JMJ 2023 de Lisboa. Independentemente do credo ou da ausência dele, quando se verifica uma concentração assim, não imaginável, de jovens, gera-se uma energia poderosíssima de tão positiva. Faz-nos acreditar que é possível a Fraternidade que conduz à Paz. “Não tenham medo, todos vós quereis mudar o mundo e quereis mudar pela justiça e pela paz.”, dizia o nosso Papa Francisco.  E embora a minha relutância a grandes aglomerações me impedisse de participar físicamente, durante todas as Jornadas o meu coração e o meu pensamento estiveram com essa mole de jovens de todo o mundo, falando um só idioma, desejando no mais fundo do meu coração que nada de mal acontecesse, que tudo corresse bem até ao fim e, Deus é Pai e Mãe, ao contrário do vaticinado pelos tantos velhos deste Restelo… tudo correu muito bem! Uma mole de jovens conduzida paternal e amorosamente por Francisco. Francisco, ele próprio, gratia plena, um eterno jovem. "Na igreja há espaço para todos. E, quando não houver, por favor façamos com que haja”. E frisou Todos! E dizia eu que alguns de nós já nasceram velhos, na feia acepção do termo. Assim como aquele jovem que, referindo-se aos abusos na Igreja, dizia “ … se calhar foram as crianças que se puseram a jeito…”Aquele jovem replica o que ouve dos adultos que tem como educadores. Lembro-me sempre de um professor de uma das minhas filhas que dizia nas reuniões de pais “Meus senhores, não se iludam, os vossos filhos são os vossos espelhos!” Assim é. Não há nada de errado com a juventude, o problema nunca são os jovens. O problema são os pais ou os educadores. Para o bem e para o mal, a educação é feita de exemplos. Nós adultos, educadores, façamos um acto de contrição. De facto, todos os males do mundo nos são devidos, não aos nossos filhos. Os egoísmos, as discriminações, as guerras! Relembro aqui o meu Abbé Pierre “Quando nos indignamos, convém que nos perguntemos se somos dignos. A indignação pode muito facilmente dar-nos boa consciência. Todavia, não nos dispensa de agir! O que importa é fazer, pelo menos o que pode ser feito”. Amén.

 

27
Jun23

Fake it until you make it

Luisa Brito

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Há uma expressão "fake it until you make it" que pode ser traduzida informalmente como "finja até conseguir". Esta frase foi relembrada a propósito da fraude de Elizabeth Holmes, a líder da Theranos. Esta jovem mulher conseguiu enganar até os mais influentes, chegando a ser apontada como o próximo Steve Jobs.

Infelizmente, demasiadas vezes costumam triunfar aqueles que fingem ser bons, que se atribuem êxitos ou que, se as coisas não correm bem, culpam os outros pelos seus próprios fracassos.

Culturalmente, a visão sobre o excesso de confiança muda dependendo do país. No mundo ocidental, em geral, há um certo nível de consenso quanto à ideia de que a autoconfiança é algo positivo. Mas na Escandinávia, no Japão ou na Coreia do Sul, as pessoas enfatizam mais a humildade e a modéstia.

Mas no fundo, as pessoas sabem que não é a posição, nem o excesso de confiança que faz o líder, mas sim o respeito e a confiança que gera na sua equipa. E essa confiança ganha-se, efetivamente, através da humildade. 

Porque no momento em que colocamos na nossa cabeça que somos algo que não somos, em geral, acabamos agindo de forma arrogante, apresentando uma segurança que é na realidade uma grande insegurança. E líderes inseguros tendem à desconfiança e a ideias persecutórias, manifestando agressividade quando sentem que não conseguem manter o controlo. Estas pessoas estabelecem relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, degradando o ambiente de trabalho. E isto constitui, de facto, assédio moral.

Por oposição, o verdadeiro líder é o que se afirma por uma perceção equilibrada e saudável de si próprio. O verdadeiro líder sabe que não sabe tudo. Celebra as suas virtudes sem exagerá-las a ponto de se tornar arrogante, e reconhece as suas áreas deficitárias sem que, por isso, perca a confiança em si próprio.

O verdadeiro líder não finge, é honesto e transparente (honest leader) e inspira a sua equipa a desenvolver e acrescer os seus talentos.

09
Set22

Porto Santo

Luisa Brito

Começamos a descer e lá está ela. Sai-me, "tão pequeninicha!" Confirmaremos mais tarde. Cerca de 20 vezes mais pequena, e no entanto mais velha, que a Madeira.

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Pequenina, mas muito diversificada. Na costa Sul, e apenas aí, cerca de 9 km de praia de uma areia finíssima, e por isso fofa, composta por fragmentos de conchas, corais e algas calcárias. Dizem os profetas (habitantes de Porto Santo) que o Ilhéu de cima (ilhéu do farol) e o ilhéu de baixo (Ilhéu da cal) são os guardiões da areia desta praia dourada .

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Impressionou-nos, em particular, a Fonte da Areia. O vento arrasta as areias destas formações, alimentando a praia no lado oposto da ilha.

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Outra formação completamente distinta é o Piano, no Pico Ana Ferreira. Um conjunto de colunas prismáticas cujas faces formam maioritariamente hexágonos. O nome do Pico associado a uma lenda sobre uma jovem, Ana Ferreira. Esta lenda tem várias versões, mas simpatizamos com esta versão do guia segundo a qual Ana Ferreira teria sido feita prisioneira numas grutas da zona por, alegadamente, ser amante do rei. Neste pico teria escondido o seu tesouro, provavelmente joias que o rei lhe trazia para a compensar desse exílio. Diz-nos o guia que ainda hoje muitos buscam esse tesouro.

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Noutra visita de barco em torno da ilha, observamos as galerias perfuradas na rocha para a extração de cal no Ilhéu da cal e, no topo, vestígios de antigas construções que serviam de abrigo aos trabalhadores. Nestas minas de extracção de cal pereceram vários homens, pelo que estas minas foram desactivadas nos anos 70 do século passado, na sequência da diminuição do valor económico na cal e de um acidente que vitimou 16 homens.

Porto Santo, agora muito erodida, foi berço de muitos dragoeiros que quase foram levados à extinção devido à ganância dos exploradores que os sacrificavam pela sua seiva vermelha cor de sangue (sangue de dragão - daí dragoeiro) muito usada ​​na tinturaria e para fins medicinais.

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Tanto mais que haveria a dizer desta pequena ilha, mas não posso deixar de me referir ao vocabulário. Por exemplo, uma meia de leite é uma chinesa. A chinesa valeu uma conversa bizarra entre mim e um empregado do bar Colombo. À minha pergunta “meia de leite diz-se da mesma maneira?” Parecia-me que ele respondia qualquer coisa sobre falar chinês. E eu insistia “não. a sério.  diga lá. diz-se da mesma maneira?” E o rapaz, já enfadado, repetia. Até que percebi! Meia de leite é chinesa! Assim como um abatanado é um chino. Mas garoto é garoto. Pronto, é assim.

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Foi também com os jovens do bar Colombo que aprendi como se faz a verdadeira “poncha à pescador”. Feita na hora, com casca e sumo de limão, açúcar e aguardente de cana da Madeira, com o auxílio do pau da poncha. A jovem mostrava-me o pauzinho de madeira e dizia-me o nome. Como eu não percebesse, teve de mo repetir três vezes e eu não percebi das três vezes. Mas à terceira, para não ser maçadora e porque me pareceu que se calhar era o que eu estava a pensar…, respondi com um condescendente “Ah!”. Só mais tarde confirmei que o nome é “mexelhote”, mais conhecido pelo nome que a moça repetiu três vezes na sua pronúncia de profeta “caralhinho”. Também a “sopa de trigo” me valeu outra conversa de moucos. “Já provou sopa de trigo?” “sopa fria? ainda não”. Revirar de olhos do outro lado. ”sopa de trigo!!”.”sopa de trigo, também não...” E o que dizer da, merecidamente afamada, “lambeca”, um gelado típico de Porto Santo há mais de cinquenta anos. Estes gelados contam com cerca de 25 sabores diferentes (quatro disponíveis a cada dia). Muito cremosos, sim senhores. E o crepe (Suíço) no palito, que eu desconhecia. Em versão doce e salgada. Muito bom!

Ademais, come-se muito bem, e relativamente em conta, em Porto Santo. De realçar, todo o tipo de peixe grelhado com que nos consolámos (Mercado Velho), as lapas (Appolo 14 e todos), o filete de espada com banana em maracujá e legumes (Calheta e Pxo grill) e até o crepe Suzzete (flambé) com a merecida encenação (Pxo grill). Refeições simples (A Praça e Pizza N’Areia) (Só não gostámos do Bar do Henrique - 15,50 euros por 4 pequenos camarões...). E por todo o lado, bolo do caco e bolo da Madeira, cujas origens são disputadas entre profetas e vilões (Madeirenses). As mil lojinhas em Vila Baleira, onde entramos e saímos, deixando-nos ou não tentar, por mais ou menos bagatelas. Tudo isto é Porto Santo.

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Mas, principalmente, o que gostámos em Porto Santo foi a simpatia e a educação das pessoas. As festas da Senhora da Piedade em Vila Baleira. À noite, com música e danças tradicionais da Madeira. A igreja toda iluminada e florida, cheia de gente que rezava, colocava velas, ou simplesmente em convívio, porque a igreja são mesmo as pessoas. A temperatura ambiente amena, com pequenas amplitudes térmicas, a temperatura de uma água muito cristalina, onde até os friorentos como eu entram sem hesitação. A cor do mar em tons de azul e verde emoldurado pelo cinzento escuro, castanho ferro e esverdeado das rochas.

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E, no final da tarde, em Vila Baleira na zona do porto velho, os meninos a saltar do pontão já fazem parte da paisagem.

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Era estranho não ver o pôr do Sol no mar, em Porto Santo. Mas até isso se conseguiu rumando à Ponta da Calheta, onde a praia termina em frente ao ilhéu da cal. Assim fizemos e, como nós, alguns outros aficionados pelo pôr do sol, o aguardavam. E assim juntos, como uma irmandade que se sente ainda mais gratificada pela partilha desta sensação, nos deliciámos com esta dádiva da natureza, já antecipando um outro prazer, o de um peixinho, servido mesmo ali ao lado.

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Porto Santo é realmente uma pequena grande ilha. Portugal está de parabéns, mas Porto Santo merecia mais atenção por parte dos poderes regional e central, porque Porto Santo é muito mais que uma praia, do que um destino de férias.  Os Profetas deveriam reivindicar mais para a sua, para a nossa ilha.

 

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21
Ago22

Sorrento

Luisa Brito

Continuando para Sul, a partir de Nápoles, o Campania Express leva-nos até Sorrento. Sorrento poderá derivar do latim Surrentum, sereias. Parece-me bem. A cidade das sereias situada sobre uma grande falésia debruçada sobre o muito azul Mar Tirreno.

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Sorrento é encantadora. O amarelo/verde limão está por todo o lado. Em licor (limoncello), nos rebuçados, nos biscoitos, nas pastas, nos gelados, na cerâmica, nos tecidos. Os turistas vestem-se com este padrão vendido por todo o lado.

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A Piazza Tasso, um ponto de referência no centro histórico, desemboca no Corso Italia, com lojas elegantes e espaços de restauração.

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Junto ao ascensor, debruçamo-nos sobre as “praias”. Na realidade, passadiços de madeira sobre rochedos, em cima de um mar muito azul e transparente, onde se paga, e muito, para apanhar sol. Ai a nossa maravilhosa e, essencialmente, gratuita costa Portuguesa!

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A Marina Grande e a Marina Piccola, que na realidade são o oposto em termos de dimensão. Na Marina Piccola encontra-se o terminal de onde partem os barcos, incluindo os de passeio a ilhas e praias da Costa Amalfitana.

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Na Marina Grande, terá surgido Sorrento numa pequena vila de pescadores. É uma zona tranquila, nada semelhante ao requinte da zona da praça Tazzo e do Corso Itália, embora actualmente pareça bastante esquecida dos poderes locais.

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Em Sorrento, a oferta hoteleira é relativamente grande e para todos os bolsos. E em termos gastronómicos há também muita escolha. Se bem que durante o mês de Agosto, nada é suficiente. Apanhámos dias de muito calor e noites de chuva torrencial. Alguns mais resilientes, acabavam de jantar nas espanadas, com o garfo numa mão e o guarda-chuva na outra. Nós, rejeitados em tudo quanto era restaurante, perdidos os lugares de esplanada, não tivemos outro remédio senão correr para o hotel com umas pizzas de take-away, protegidas pelo único chapéuzinho de chuva da bagagem. Noutra noite, já com reserva num restaurante a quatro minutos do hotel, para jantar foi preciso enfrentar o temporal e chegámos ao restaurante como esfregões ensopados.

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A partir de Sorrento alcança-se Positano e Amalfi. Também Capri e a grotta azzurra, impossíveis de não recordarmos de outra viagem, fica a meia hora de Sorrento.

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Depois de uma recompensada espera em fila de mais de 1 hora, despedimo-nos de Sorrento e da costa Amalfitana com uma refeição inesquecível na La Cantinaccia del Popolo.

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17
Ago22

#cuoredinapoli

Luisa Brito

Para quem conhece meia dúzia de cidades do Norte e Centro de Itália, incluindo Veneza, Florença e Roma, Nápoles foi uma surpresa. Nápoles é diferente. Menos rica, menos limpa, menos bela, por certo mais esquecida dos poderes centrais, discriminada pelos italianos do Norte, dizem, como perigosa, suja e pobre. Ainda assim, Nápoles é genuína e nunca nos sentimos em perigo. Em Agosto, Nápoles está banhada de turistas e no centro histórico há movimento até muito tarde. Por ser uma cidade menos rica, para um Português, o custo de vida em Nápoles é muito mais aceitável do que no Norte/Centro de Itália. E, em geral, os Napolitanos são simpáticos e educados.

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Até à chegada de Maradona, em 1984, o Napoli era quase inexpressivo em conquistas. Com Maradona, o clube começou a ganhar títulos numa Itália dominado por gigantes como a Juventus e o Milan. Fora de campo, os feitos liderados pelo talento do Argentino tiveram um enorme simbolismo social. Era a vitória de Nápoles frente ao preconceito dos italianos do Norte. Maradona passou a ser idolatrado pelos napolitanos, e esta adoração, como se de Deus se tratasse, continua hoje muito visível, particularmente no Quartieri Spagnoli, um bairro antigo de Nápoles e um dos mais pobres, e considerado perigoso, do centro da cidade.

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Foi no Quartieri Spagnoli que nos demos conta do #cuoredinapoli e que entendemos o gesto do dono do restaurante Al 53, na Piazza Dante, ao oferecer-me um pequeno coração vermelho. Brincava comigo sobre a excelência do bacalhau Português, dizendo “não temos bacalhau, mas temos isto”.

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O projeto #cuoredinapoli tem origem no Kiss Festival, em Nápoles em 2014 e 2015. Tomou então visibilidade e foi disseminado pelas redes sociais tornando-se viral. Ao longo do tempo, tornou-se num símbolo da cidade que nele se identifica num conjunto de sinergias, de caracter artístico entre outras, que sublinham a união do povo Napolitano, em torno de um bem comum.

19
Jun22

As palavras

Luisa Brito

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As palavras lidas ou escutadas, ditas, sugeridas ou caladas, porque o silêncio são também palavras, que se não dizem.

Sempre procurei as palavras. Escapam-se-me nos bons momentos “não se declina a felicidade”. Nos maus, procuro-as, nos livros, nos outros, em mim, outra vez nos livros, abertos ao acaso, tal a minha sede de palavras. As palavras nunca me falham. Mesmo essas, as que não se dizem.

Há quem se alimente de música, de pintura. Eu gosto de música, de pintura, mas alimento-me de palavras. Quase sempre as encontro nos livros “é isto! o que eu queria dizer, mas não sabia. Abençoado!” Outras, ressoam em mim, palavras simples ou complicadas, “tomorrow” que é um “tergiversar” que há-de levedar num “sim” ou num “não”, e tantas outras, que difícil é desembrulhá-las, dar-lhes o sentido da razão ou do coração, esse equilíbrio também custoso de alcançar.

As que não se dizem porque, tudo já foi dito e, uma palavra a mais pode destruir mais do que uma palavra a menos. Depois de dita a palavra não pode ser desdita, por muito que se tente, não pode. Mas também nada importante deve ser deixado por dizer. Uma única palavra omissa pode abrir passagem para tudo o que se não quer. É este o poder da palavra, para o bem e para o mal.

Amo palavras, alimento-me de palavras, chego a inventá-las. E também gosto de as casar com imagens. Palavras que são só minhas, que são só nossas. Palavras que me foram dadas e que reparto. As que ninguém percebe, as que consolam, as que amparam, as que alegram, as que magoam. As que podem matar e as que podem salvar. Tantas palavras. E tantas outras que se não dizem e também que se dizem. E tanto silêncio no que se não diz e também no que se diz…

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