Há pessoas que ficam bem em fotografias e há pessoas que ficam mal. Das primeiras, uma grande parte acha que fica mal. Das segundas, uma pequena parte acha que fica bem. Eu pertenço à maior parte das segundas. O que já não é mau de todo…. Pelo que, quando à enésima tentativa há uma que escapa, confesso que fico empolgada. E vem então a tentação da “selfie”, ainda que a “selfie” possa não ser realmente uma “selfie”… E agora com o mundo a um “click” sabemos que temos garantidos uns quantos “likes” de umas quantas almas: das que gostam de nós e estão “ceguinhas” por tamanho gostar e das que nem por isso, mas que põem “like” mesmo assim. E o nosso ego fica inflamado mas, geralmente, não dura muito, e até de cada vez parece que dura menos. Como quando, por vezes, compramos coisas para as pôr de parte mesmo antes de, efectivamente, as usufruir e partimos cada vez mais depressa para a próxima aquisição. Temos então a tentação de aumentar a parada, que é como quem diz, desatamos a tirar “selfies” em todo o lado e em todas as situações: concertos, paisagens, momentos de relaxamento e, eventualmente, mesmo em momentos menos públicos. Sacrificamos assim a vivência interior de tais experiências à urgência da “publicação”, porque o ego é insaciável e nunca nos sentimos satisfeitos. E no entanto, de vez em quando ouvimos alguém dizer “Aquilo que recebi (ao dar) foi infinitamente maior do que aquilo que dei.” É que ao experimentar essa sensação de plenitude, ao contrário da sensação anterior, tem-se a certeza de que o caminho é por ali. O verdadeiro desprendimento não tem que ver com desinteresse, como poderemos ser levados a pensar, mas sim com dar na liberdade de não estar refém da retribuição. Dar porque sim! E sim é muito difícil. Mas da próxima vez que me assaltar a tentação da “selfie” perguntar-me-ei se é mesmo essencial. Se, só por essa vez, não poderei concentrar-me apenas na situação e desfrutar dela em pleno. Porque, se calhar, o essencial é mesmo invisível aos olhos…