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Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

28
Set18

Palavras

Luisa Brito

Words 2.png

 Há Palavras que Nos Beijam

 

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca.

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.

 

Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto;

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.

 

De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas inesperadas

Como a poesia ou o amor.

 

(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído

No papel abandonado)

 

Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.

 

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

 

 

25
Set18

A tentação da "selfie"

Luisa Brito

DSC09997.JPG

 

Há pessoas que ficam bem em fotografias e há pessoas que ficam mal. Das primeiras, uma grande parte acha que fica mal. Das segundas, uma pequena parte acha que fica bem. Eu pertenço à maior parte das segundas. O que já não é mau de todo…. Pelo que, quando à enésima tentativa há uma que escapa, confesso que fico empolgada. E vem então a tentação da “selfie”, ainda que a “selfie” possa não ser realmente uma “selfie”… E agora com o mundo a um “click” sabemos que temos garantidos uns quantos “likes” de umas quantas almas: das que gostam de nós e estão “ceguinhas” por tamanho gostar e das que nem por isso, mas que põem “like” mesmo assim. E o nosso ego fica inflamado mas, geralmente, não dura muito, e até de cada vez parece que dura menos. Como quando, por vezes, compramos coisas para as pôr de parte mesmo antes de, efectivamente, as usufruir e partimos cada vez mais depressa para a próxima aquisição. Temos então a tentação de aumentar a parada, que é como quem diz, desatamos a tirar “selfies” em todo o lado e em todas as situações: concertos, paisagens, momentos de relaxamento e, eventualmente, mesmo em momentos menos públicos. Sacrificamos assim a vivência interior de tais experiências à urgência da “publicação”, porque o ego é insaciável e nunca nos sentimos satisfeitos. E no entanto, de vez em quando ouvimos alguém dizer “Aquilo que recebi (ao dar) foi infinitamente maior do que aquilo que dei.” É que ao experimentar essa sensação de plenitude, ao contrário da sensação anterior, tem-se a certeza de que o caminho é por ali. O verdadeiro desprendimento não tem que ver com desinteresse, como poderemos ser levados a pensar, mas sim com dar na liberdade de não estar refém da retribuição. Dar porque sim! E sim é muito difícil. Mas da próxima vez que me assaltar a tentação da “selfie” perguntar-me-ei se é mesmo essencial. Se, só por essa vez, não poderei concentrar-me apenas na situação e desfrutar dela em pleno. Porque, se calhar, o essencial é mesmo invisível aos olhos…

23
Set18

101

Luisa Brito

DSC00140.JPG

 

 O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma

 

Autor desconhecido

 

(A minha mãe que nasceu com o Outono há 101 anos)

 

21
Set18

O tempo

Luisa Brito

HPIM1278.JPG

 

O Tempo Passa? Não Passa

 

O tempo passa? Não passa

no abismo do coração.

Lá dentro, perdura a graça

do amor, florindo em canção.

 

O tempo nos aproxima

cada vez mais, nos reduz

a um só verso e uma rima

de mãos e olhos, na luz.

 

Não há tempo consumido

nem tempo a economizar.

O tempo é todo vestido

de amor e tempo de amar.

 

O meu tempo e o teu, amada,

transcendem qualquer medida.

Além do amor, não há nada,

amar é o sumo da vida.

 

São mitos de calendário

tanto o ontem como o agora,

e o teu aniversário

é um nascer a toda a hora.

 

E nosso amor, que brotou

do tempo, não tem idade,

pois só quem ama

escutou o apelo da eternidade.

 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Amar se Aprende Amando'

 

18
Set18

Os desvalidos

Luisa Brito

Vihls.jpg

                                                                               Vhils - Elvas

Olhamos muito para baixo distraídos que somos pelo ciberespaço que nos chama. Mas que não nos esqueçamos nunca de olhar em volta, atentos a quem está desamparado. Que nunca nos vença a velha desculpa da falta de tempo para ver olhando, e para ouvir escutando. Que nunca, mas nunca, nos ganhe a escolha de Pilatos... O voluntariado mais óbvio é o que ao nosso lado nos convoca. Uma criança, um idoso desamparado, pode ser também o nosso menino, o nosso pai, o nosso avô, o nosso futuro...

14
Set18

Sonho

Luisa Brito

 

 

IMG_20180914_195036.jpg

Sonho

Teria passado a vida 
atormentado e sozinho 
se os sonhos me não viessem 
mostrar qual é o caminho 

umas vezes são de noite 
outras em pleno de sol 
com relâmpagos saltados 
ou vagar de caracol 

quem os manda não sei eu 
se o nada que é tudo à vida 
ou se eu os finjo a mim mesmo 
para ser sem que decida. 

Agostinho da Silva, in 'Poemas' 
08
Set18

Uma pausa

Luisa Brito

IMG_20170817_115032.jpg

 

A certa idade, que varia segundo as pessoas mas que se situa por volta dos quarenta, a vida começa a parecer-nos insípida, lenta, estéril, sem atractivos, repetitiva, como se cada dia não fosse senão o plágio do anterior. Algo em nós se apaga: entusiasmo, energia, capacidade de fazer planos, espírito de aventura ou simplesmente apetite de prazer, de invenção ou de risco. É o momento de fazer uma paragem, reconsiderar a vida sob todos os seus aspectos e tentar tirar partido das suas fraquezas. Momento de suprema eleição, pois trata-se, na realidade, de escolher entre a sabedoria e a estupidez.

Julio Ramón Ribeyro in Prosas Apátridas

04
Set18

Eternidade

Luisa Brito

IMG_20180624_123011.jpg

 

Eternidade

"Vens a mim 
pequeno como um deus, 
frágil como a terra, 
morto como o amor, 
falso como a luz, 
e eu recebo-te 
para a invenção da minha grandeza, 
para rodeio da minha esperança 
e pálpebras de astros nus. 

Nasceste agora mesmo. Vem comigo."

Jorge de Sena, in 'Perseguição' 
 
(A meu pai que nasceu faz hoje 1 século)

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