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Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

28
Fev19

Ouvir o Silêncio

Luisa Brito

tuneis 3.jpg

 

É curioso como ao silêncio ambiente se pode somar o nosso próprio silêncio, exterior e interior. Quase como que interromper por momentos a torrente dos nossos pensamentos. E como o vácuo nos preenche!... Sensação estranha, por infelizmente invulgar, mas extasiante, por felizmente muito bela.

Nada disto tem que ver com raça, sexo, idade, nível intelectual, posição social, ideal político ou confissão religiosa. Falo de algo acessível a qualquer um. Embora admita que aqueles que saibam ser mais puros nas intenções e corretos nas atitudes tenham maior facilidade em conseguir.

Quando nos embrulhamos com muitas peripécias de vida material, parece que temos dificuldade em sintonizar com a Natureza. Mas, curiosamente, parece que todos temos a capacidade necessária para nos libertarmos do maior ou menor turbilhão envolvente, para nos sentirmos simplesmente iguais a nós próprios, pensando só o que queremos pensar, dizendo apenas o que entendemos pertinente dizer e fazendo só o que nos parece bom para nós, para os outros, para o Todo.

Quando se atinge a serenidade, a quietude e o silêncio sentimo-nos bem connosco, em sintonia com a Inteligência Universal. Uma partícula do Todo, em vibração com ele.

 

Luís Portela in O Prazer de Ser

24
Fev19

Semear para colher...

Luisa Brito

ursinho.JPG

 

Era uma vez uma velhinha frágil a quem falecera o marido carinhoso. Depois de enviuvar, ela foi viver com o filho, a nora e a neta. Todos os dias, a vista da senhora piorava e o mesmo acontecia com a sua capacidade auditiva. Às vezes, as suas mãos tremiam tanto, que as ervilhas rolavam do seu prato para o chão e a sopa escorria-lhe pelos cantos da boca. O filho e a nora ficavam aborrecidos com a porcaria que ela fazia e, um dia, disseram que já chegava. Portanto, montaram uma mesinha para a senhora, num canto da cozinha, junto da despensa, e obrigaram-na a comer aí, sozinha. Ela olhava para eles à hora da refeição, com os olhos rasos de lágrimas, mas eles nem se davam ao trabalho de lhe dirigir a palavra enquanto comiam, excepto para repreendê-la por ter deixado cair a colher ou o garfo.

Uma noite, antes do jantar, a netinha estava sentada no chão, a brincar com os legos. “O que estás a construir?”, perguntou o pai, todo interessado. “Estou a construir uma mesinha para ti e para a mamã”, disse ela, “para vocês comerem a um canto, quando eu for grande” ….

 

Conto extraído de Robin Sharma in O Monge Que Vendeu o Seu Ferrari

20
Fev19

A propósito de uma crónica do RAP publicada na Visão

Luisa Brito

O RAP escreveu uma crónica na Visão (link abaixo) sobre a sua ausência no FB desde sempre. Para mim, que aderi há pouco, muitas razões para esta sua ausência fazem muito sentido. Mas também, “quem não sabe é como quem não vê” e para se poder opinar tem mesmo de se experimentar. É como tudo o mais, não é verdade?…

Diz o RAP, entre outras coisas, que não estando no FB, não deu opiniões sobre variadíssimos assuntos, desde os mais sérios aos mais fúteis. Mas se não deu no FB deu, muito provavelmente, noutros locais igualmente públicos, ou não fosse ele cronista.…Diz que se um amigo faz anos, dá-lhe os parabéns com a boca, artesanalmente. Pois eu também já o fazia antes e não o deixaria de fazer depois. E se há pessoas que embora “amigos” no FB não tenho grande relacionamento, que me perdoem, mas não faz qualquer sentido dar os parabéns. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Também não tenho o hábito de usar o FB para bater boca, nem com quem mal conheço, e muito menos com quem conheço bem. Se bem que uma troca educada e respeitadora de pontos de vista, mesmo no FB, possa ser muito salutar. Também de vez em quando encontro pessoas que não via há muito. E sem dúvida que o FB facilita. Já encontrei (ou encontraram-me) pessoas de quem não sabia, sem nenhuma razão especial que não fosse as voltas da vida de cada um, e deu-me muito gosto reencontrá-las. Também me importa nada saber quem seria se fosse uma pedra, uma flor, um animal, uma figura do passado, nem como é que seria se fosse do sexo oposto. Mas aceito e respeito, também neste caso, que há quem se importe. A diplomacia dos likes também me é estranha, talvez porque sou novata ou ingénua nestas andanças, mas, como em muitas outras, ser ingénuo não é mal nenhum (mas isto levar-nos-ia a outros caminhos que não vêm agora ao caso). Também não tenho o hábito de partilhar onde estou ou com quem estou. E também não tenho por hábito mostrar fotografias minhas ou dos meus. Mas, mais uma vez, aceito e respeito que outros pensem diferente de mim. Embora esta aceitação muitas vezes não surja imediatamente… Nestas alturas, as minhas filhas ajudam muito “Mãe, não foi essa a educação que nos deste”. Verdade, não foi. Ensinei-as a respeitar e a aceitar as diferenças, desde que isso não interfira com o bem-estar dos outros. E faço por não me esquecer. Elas ajudam.

Hão de alguns dizer: “Então o que estás a fazer no FB?”  Efectivamente, foi à conta do blog que fui para o FB. E descobri depois que o FB pode ser uma forma de, não só partilhar boas vibrações como também de, sensibilizar para questões de cidadania. Em suma, de educar (eu que sou educadora de modos diversos). Porque partilhar sensibilidades também é educar.

É claro que nem todos hão de apreciar. “Deu-lhe agora para postar coisas de amor e cenas assim…”. É que eu sempre fui (senti e pensei) assim. Apenas partilhava com muito poucos. Agora partilho estas sensibilidades com mais pessoas. E vou até descobrindo coisas curiosas. Como por exemplo, pessoas com as quais tenho mais afinidades do que supunha. Ou mesmo o contrário. Mas está sempre tudo bem. No FB, como na vida, ninguém tem de seguir ninguém. Portanto, o RAP fez umas reflexões sobre o FB que me fizeram lembrar as considerações sobre a vida em casal feitas por religiosos sujeitos ao celibato. Portanto, sem conhecimento de causa…

 

http://visao.sapo.pt/opiniao/ricardo-araujo-pereira/2019-02-15-Parabens-feicebuque.-E-boa-sorte

16
Fev19

Um anjo ao leme

Luisa Brito

A subida.jpg

 

 

Nos teus olhos alguém anda no mar

alguém se afoga e grita por socorro

e és tu que vais ao fundo devagar

enquanto sobre ti eu quase morro.

 

E de repente voltas do abismo

e nos teus olhos há um choro riso

teu corpo agora é lava e fogo e sismo

de certo modo já não sou preciso.

 

Na tua pele toda a terra treme

alguém fala com Deus alguém flutua

há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

 

Das tuas coxas pode ver-se a lua

contigo o mar ondula e o vento geme

e há um espírito a nascer de seres tão nua.

 

Manuel Alegre in Todos os Poemas São de Amor

 

13
Fev19

Dois em um

Luisa Brito

 

Se me esqueceres

 

Quero que saibas
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Pablo Neruda in Poemas de Amor de Pablo Neruda

08
Fev19

Inseparados

Luisa Brito

inseparaveis.jpg

 

Por isto e por mais do que isto, tu estás aí, e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.

Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos.

 

José Luís Peixoto in Abraço

 

03
Fev19

A luz de uma desgraça

Luisa Brito

Luz.jpg

 

Recebo cartas extraordinárias. Abrem-mas, desdobram-mas e expõem-mas diante dos olhos, segundo um ritual que dá a esta chegada do correio o carácter de uma cerimónia silenciosa e sagrada. Eu próprio leio cada carta escrupulosamente. A algumas não falta uma certa gravidade. Falam-me do sentido da vida, da supremacia da alma, do mistério de cada existência e, por um curioso fenómeno de inversão das aparências, são aqueles com quem eu havia estabelecido os relacionamentos mais fúteis que focam de mais perto estas questões essenciais. A frivolidade ocultava a sua profundidade. Estaria eu cego e surdo ou será necessariamente precisa a luz de uma desgraça para mostrar um homem à sua verdadeira luz?

 

Jean-Dominique Bauby in O Escafandro e a Borboleta

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