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Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

16
Ago19

Pássaros

Luisa Brito

IMG_20190816_095613.jpg

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

 

Mário Quintana 

15
Ago19

O céu

Luisa Brito

IMG_20190815_233509.jpg

 

Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.

 

José Luís Peixoto 

14
Ago19

Viajar

Luisa Brito

IMG_20190814_231335.jpg

 

Viajar! Perder países!

Ser outro constantemente,

Por a alma não ter raízes

De viver de ver somente!

 

Não pertencer nem a mim!

Ir em frente, ir a seguir

A ausência de ter um fim,

E da ânsia de o conseguir!

 

Viajar assim é viagem.

Mas faço-o sem ter de meu

Mais que o sonho da passagem.

O resto é só terra e céu.

 

Fernando Pessoa 

07
Ago19

Pequenas Coisas

Luisa Brito

IMG_20190807_204523.jpg

 

Coisas, Pequenas Coisas 

 

Fazer das coisas fracas um poema.

Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.

Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.

 

Fernando Namora

07
Ago19

O Sapo

Luisa Brito

IMG_20190807_170541.jpg

 

A Visita do Príncipe 

Não sei nunca o que me trazem as palavras, elas gostam tanto de me surpreender. Hoje ao levantar da névoa trouxeram-me a casa sobre o rio, o terraço escassamente iluminado por um lampeão que balançava ao vento, o pequeno sapo que todas as noites, rente ao muro, se ia aproximando, depositário de tudo o que nesse tempo em mim se confundia com a ternura. Pequeno príncipe da vadiagem, por ali se quedava sem outro ofício que não fosse o de receber alguma carícia, só depois regressando por entre a humidade das pedras aos pântanos da sombra, a noite inteira nos olhos desmedidos. 

Eugénio de Andrade

06
Ago19

O Caracol

Luisa Brito

IMG_20190806_195251.jpg

O Caracol

Pode a noite ir já distante
E o sol arder como brasa:
Mais atrás ou adiante,

Eu paro, e cheguei a casa.

A ave de volta ao ninho,
Rasga o ar com sua asa,
Que eu, devagar, no caminho,
Direi já que estou em casa.

Todo o tempo me sobeja,
No monte ou na campina rasa,
Em qualquer lado onde eu seja.
Se paro, cheguei a casa.
 
Cabral do Nascimento
04
Ago19

"ming-au"

Luisa Brito

IMG_20190804_191209.jpg

O gato chinês 
 
Era uma vez
um gato chinês
 
que morava em Xangai
sem mãe e sem pai,
 
que sorria amarelo
para o Rio Amarelo,
 
com seu olhos puxados,
um pra cada lado.
 
Era um gato mais preto
que tinha nanquim,
 
de bigodes compridos
feito mandarim,
 
que quando espirrava
só fazia "chin!"
 
Era um gato esquisito:
comia com palitos
 
e quando tinha fome
miava "ming-au!"
 
mas lambia o mingau
com sua língua de pau.
 
Não era um bicho mau
esse gato chinês,
 
era até legal.
Quer que eu conte outra vez?
 
 
José Paulo Paes 
02
Ago19

A menina

Luisa Brito

menina.jpg

 

Travessia da infância

 

Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas

lembro-me de uma janela
na Travessa da Infância
onde seguindo o rumor dos autocarros
olhei pela primeira vez 
o mundo

não sei se poderás adivinhar
a secreta glória que senti
por esses dias

só mais tarde descobri que
o último apeadeiro de todos
os autocarros
era ainda antes 
do mundo

mas isso foi depois
muito depois
repito

 

José Tolentino Mendonça

 

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