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Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

Hostel

A vida privada de cada um de nós compreende a sua intimidade, mas não se esgota nela. Afinal, como dizia a poetisa “Como se um grande amor cá nesta vida não fosse o mesmo amor de toda a gente!...”.

20
Out19

No céu de Firenze

Luisa Brito

Florença! Diz-se que nunca se deve voltar aos sítios onde já se foi feliz. Eu acho que se deve  voltar sempre aos sítios onde sempre se foi feliz. Cá estou eu de novo em Santa Maria Novella. Menos calor do que o que deixámos para trás em Veneza. Menos mosquitos também…. Chegar à residência, receber as chaves junto com algumas informações e dicas sobre a estada, refrescar e  cá vamos nós de novo à descoberta. Relativamente perto, o Mercado Central. É curioso como quando estamos em casa, todo o percurso nos parece longo e apropriado a usar outro transporte que não as nossas pernas, mas quando vamos para fora caminhamos quilómetros e achamos tudo relativamente perto… Continuamos entre as infindáveis bancas de casacos de couro em direcção ao Duomo e a Santa Maria del Fiore.

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A caminho, o céu de Florença acompanha-nos e surpreende-nos a cada quarteirão… Passamos na Basílica de São Lourenço e encontramos aquelas ruazinhas simpáticas e acolhedoras a pulular de comércio tradicional,  com as suas esplanadinhas onde turistas e florentinos apreciam o fim do dia em amena cavaqueira ao petisco.

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Chegados ao Duomo e a Santa Maria del Fiore ficamos assoberbados pela imponência destes edifícios. É quase impossível tirar uma foto que abarque tudo. Além de que, a imensidão de turistas também se aglomera mais aqui. Olhamos e não nos cansamos de apreciar. É enorme é bela é qualquer coisa de verdadeiramente majestoso, ali no meio de uma praça em plena Florença.

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De regresso a casa, a Igreja de São Marco e o já inesquecível céu de Florença… a lavar os olhos e a alma.. Depois dos banhos, uma refeição que não referirei, como aliás outras, porque dado o adiantado da hora, a fome da caminhada e uma série de outras coincidências aziagas, resultou num erro de casting…

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Novo dia, Igreja de Santa Maria Novella e a Officina Profumo Farmaceutica, um sítio a voltar sempre, mesmo que nada se compre, mas que vale pelo aroma, pela frescura e pela beleza. Depois, o objectivo era a Ponte Vecchio. E pelo caminho, a ponte de Santa Trinita e a Igreja de Santa Trinita. Uma das que se pode entrar e sentar e desfrutar do silêncio sem ser atropelado por ninguém e sem pagar…

E finamente, de novo a Ponte Vecchio e o Mercado Velho. As fotos obrigatórias com o Porcellino. A primeira vez que fui a Florença, disseram-me que tinha de esfregar o focinho do javali se queria voltar. Assim fiz e resultou. Agora já se fala em dar sorte e dinheiro: formula-se um desejo, coloca-se uma moeda na boca do Porcellino e solta-se. Se cair dentro da grelha que recolhe a água, o pedido será realizado. Até nestas coisas o grau de exigência vai aumentando…

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Piazza della Signoria com o seu imponente Neptuno rodeado de ninfas e sátiros, o Pallazo Vecchio e a Galleria degli Uffizi, onde fizemos o reconhecimento das portas de entrada uma vez que já tínhamos bilhetes reservados para o dia seguinte.

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De tarde, o objectivo era subir à Piazzale Michelangelo, um óptimo miradouro sobre Florença. E a caminho, o Museu del Gioiello Scuola, uma espécie de lugar mágico, pelo menos para mim, entras com muito cuidado, dás a volta à loja/museu/escola, numa fila de mirones que também entraram como nós atraídos pela música. Vale a pena.

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Continuámos. É preciso que nos mentalizemos que é preciso subir bastantes escadas. Pois se lá em cima está um miradouro privilegiado... E lá fomos, com o engodo de saber que na descida haveria paragem obrigatória na gelataria Filó, para uns gelados refrescantes e muito saborosos a um preço muito simpático. E chegámos e fotografámos e filmámos e apreciámos e descansámos e outra vez o céu de Florença a abençoar-nos… Lá descemos a caminho da Filó, e a chuva veio do céu mesmo para não haver quaisquer dúvidas sobre as bênçãos prometidas. E assim, lá nos abrigámos a saborear os gelados e a descansar as pernas  e os olhos de tanto querer ver e reter.

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A caminho de casa ainda passámos na Piazza della Repubblica e a caminho, no Palazzo Medici. E depois, casa, banhos e saída para jantar na Osteria Pepo, junto ao Mercado Central, que recomendo vivamente.

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No último dia de manhã, rumámos à Basilica di Santa Croce. Outra vez o céu de Florença… e depois de andar a deambular por ali, entra aqui, pára acolá, come alguma coisa  e volta ao caminho, as Uffizi (sem a estátua do David…). Com um belíssimo terraço a meio do percurso para retemperar energias.

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Depois, compras nas ruazinhas do comércio tradicional, a aproveitar os saldos,  a caminho de casa para os últimos banhos. Terminar o dia num jantar de pizza, outra vez junto ao mercado central, no i Camaldoli, que também recomendo vivamente, onde um jovem empregado Brasileiro, mas a viver há muitos anos em Florença, tornou o jantar ainda mais acolhedor  e fechou com chave de ouro esta outra passagem por Florença. A voltar, nem que seja pelo David... E é como dizia a t-shirt ”Eu não preciso de terapia, eu só preciso de ir a Itália… 😉

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17
Out19

Signo de Escorpião

Luisa Brito

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Signo de Escorpião 

Para ti, saberás, não há descanso,
a paz não é contigo nem fortuna:
O signo assim ordena.
Pagam-te os astros bem por essa guerra:
por mais curta que a vida for contada,
não a terás pequena.

 

José Saramago

03
Out19

Peraltagens...

Luisa Brito

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O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

 

Manoel de Barros

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