A fila...
Trabalho mais nesta pandemia do que trabalhava antes. Não sou a única. Uns porque as chefias receiam que as pessoas preguicem em casa e sobrecarregam-nas de tarefas, outros porque este regime de trabalho remoto de emergência torna mais demorado agilizar determinados procedimentos. E é preciso cozinhar, lavar, limpar, passar, cuidar dos nossos, em suma, organizar a vida que não se esgota no trabalho. Alguns de nós, por outro lado, lamentam-se da falta de ocupação, discutem as melhores opções de receitas culinárias ou mesmo de take-away, enquanto se vai brincando com o tamanho da roupa que teima em mingar...
Interrompo o trabalho para lanchar. Ligo a TV e o que eu vejo é uma fila de pessoas à espera de uma doação de géneros alimentícios. A maior parte destas pessoas, mesmo com máscara, tapa a cabeça, não quer ser filmada. As pessoas têm vergonha de pedir. Devíamos nós ter vergonha que tivessem de pedir... Há gente a passar fome. Mesmo ao pé de nós. A pandemia é democrata, não distingue entre ricos e pobres, mas as consequências da pandemia distinguem muito bem uns dos outros. Eu agradeço pelo trabalho que tenho e, de cada vez que me ocorrer lamentar-me, pensarei nisto... envergonhada…