Ensino remoto de emergência e avaliação remota de calamidade no ensino superior
Não sei dizer se todos, mas, estou convencida de que, com menor ou maior dificuldade, a maioria dos alunos e dos professores se adaptou rapidamente a este ensino remoto de emergência. As aulas foram dadas num registo diferente, mas que não poderia ter sido outro, em pleno estado de emergência.
No entanto, ensino remoto de emergência é uma coisa e avaliação remota em estado de calamidade é outra. Nestas avaliações remotas, professores e alunos estiveram demasiado ocupados com a logística das avaliações, em vez de se concentrarem na efectiva avaliação dos conteúdos. Não correu bem. Os professores, por vezes, poderão ter exagerado nas regras impostas, com vista à minimização da fraude. Já para os alunos, não cometer fraude foi, virtualmente, impossível. Mesmo aqueles que não precisam de fazer batota para obter boas classificações não conseguiram ter o sossego, indispensável à realização de uma prova, tais as múltiplas solicitações de ajuda por parte de colegas, a que dificilmente se poderiam escusar, particularmente no 1º ciclo, sob risco do julgamento de grupo. E, quase todos, sabendo que não havia forma efectiva de poderem ser controlados, fizeram o que puderam. Mesmo as perguntas com consulta consentida, cujas respostas não podem ser encontradas diretamente e, à partida, exigem maior raciocínio, neste tipo de avaliação remota podem sempre ser falseadas pela consulta, no grupo, através das mil redes sociais ao alcance de um toque.
No 1º ciclo, em pleno exame oral, uma aluna inquirida em relação a um determinado tema perguntava aos professores, com a maior das canduras, se podia consultar os seus apontamentos, enquanto outro aluno, com igual candura, descrevia aos professores como ao responder à prova escrita, tinha lido as questões e, no caso de dúvida, tinha consultado os seus apontamentos… E isto foi dito com tanta naturalidade que parece estar já interiorizada a ideia de que esta avaliação remota é um tipo de avaliação naturalmente com consulta, de tudo...
O Sr. Ministro do Ensino Superior afirma ter sido educado numa geração onde se dizia que “é proibido proibir”. E deixou, por isso, às escolas a liberdade de agirem como entendessem nesta situação de pandemia. Já alguns responsáveis pelas escolas, aparentemente, parecem não partilhar da mesma filosofia de vida do ministro… até porque alegam não disporem dos meios financeiros necessários para pôr em prática, com segurança, a certeza do Sr. Ministro de que “pessoas e competências exigem a presença e a interação física".
Estamos quase em Julho. E a partir de Setembro/Outubro como vai ser? Dificultada que está a comunicação, os professores apenas trocam opiniões e preocupações sobre esta situação em círculos restritos. A sensação é mesmo de que se trata de um assunto incómodo…. Cómodo ou incómodo é a realidade que parece que está para durar. Donde, urge escutar os intervenientes, fazer o balanço das experiências já vividas e planear, para melhor controlar, as experiências futuras. Isto é, se queremos continuar comprometidos com um ensino superior de qualidade que assegure que os alunos terminem os seus percursos académicos munidos das competências necessárias para virem a ser bons profissionais.