Somos o que comemos, mas parece que também somos o que ouvimos e lemos…
Têm-me chegado dúvidas acerca do envolvimento dos alimentos na Covid-19. Assistimos, não há muito, à apologia das injecções com desinfetantes…. Após ressurgimento de novos casos de Covid-19, encerra-se um grande mercado de alimentos em Pequim, bem como fábricas de carne no Reino Unido e outros casos surgirão infelizmente. Apontam-se os alimentos como a causa para o efeito. Mas omitem-se as condições inerentes a estes locais: grande concentração de pessoas, que em muitos casos também vivem e se deslocam em espaços com grande concentração de pessoas; necessidade de falar muito alto, portanto com maior emissão de partículas; nalguns casos humidade elevada que aliada ao frio protege o vírus, nalguns casos também falhas no controlo das boas práticas de higiene (GHP)…
(Quase) nada do que comemos, bebemos, respiramos ou de qualquer modo experienciamos está isento de risco. Cada sector, baseado no conhecimento cientifico disponível ao momento, implementa medidas que visam baixar o risco, que é o mesmo que dizer minimizar a probabilidade de ocorrência do perigo.
Posto isto, devemos questionar a fidedignidade das fontes de informação. Existe muita informação a circular e muito rapidamente, mas nem toda é confiável. Não são os influencers ou os políticos que detêm o conhecimento científico. Esse papel cabe aos cientistas que, como já dito, em face do conhecimento disponível à data, se pronunciam.
O SARS-CoV-2 não é um vírus alimentar. Tem uma estrutura diferente e um modo diferente de interagir com o hospedeiro. A doença Covid-19 não se transmite através de contaminação fecal-oral, como no caso de muitos agentes patogénicos alimentares, vírus alimentares incluídos.
A Indústria Alimentar, desde a quinta ao prato, tem implementadas ferramentas que visam a protecção do consumidor. Essas ferramentas assentam nas GHP e nas GMP (boas práticas de fabrico). Como os técnicos alimentares, só os técnicos de saúde têm tão bem implementadas as boas práticas de higiene. Mas já as nossas mães e avós nos ensinaram: lavar e secar as mãos, sempre antes e depois de manipular alimentos; lavar fruta e vegetais em abundante água corrente, especialmente para consumir em fresco; cozinhar bem os alimentos. Estas, entre outras medidas, funcionam também para controlar o SARS-CoV-2 nos alimentos. Estas são as recomendações dos técnicos alimentares. Já os técnicos de saúde reforçam a necessidade de; distanciamento social; uso de máscara; lavagem, ou desinfecção, frequente das mãos; evitamento de locais com grande concentração de pessoas e/ou pouco arejados.
E é isto! Continuar a comer e continuar a viver. Sem nunca, nunca, baixar a guarda a este inimigo.
Aos influencers não abalizados, cabe estarem caladinhos sobre aquilo que não sabem, para não provocarem mais estrago. Já aos políticos, cabe criarem condições para que TODOS possam seguir estas recomendações. Supostamente, o juramento que fizeram também incluía esta palavra: TODOS.
Fiquem bem, protejam-se e protejam os outros!