A mulher seminua
Tinha-se dominado. Levantou a cabeça, olhou o tecto pintado da sala, cujas pinturas o tinham distraído tantas vezes durante as discussões intermináveis das Juntas Directivas; olhou, principalmente, aquela mulher seminua que lhe sorrira uma vez por semana durante vinte anos, a única que, de verdade de verdade, lhe tinha sorrido. Olhou o espelho do fundo, onde a mulher se refectia e de onde lhe fazia também o mesmo trejeito, que ele se comprazia a olhar depois do outro para ter a ilusão de que eram duas irmãs gémeas que o amavam.
Gonzalo Torrente Ballester in A Bela Adormecida Vai à Escola