Fugir para o Outro...
Os dias estão tristes, como se o tempo tivesse sido contagiado pela tristeza das pessoas. À nossa volta um silêncio pesado que contrasta com a parafernália que as televisões nos mostram dos hospitais. Em casa de cada um de nós a vida continua. Os que estão sentados no sofá, no conforto do lar, as tecnologias à mão de semear. Os que são obrigados a adaptar-se, com filhos pequenos e em teletrabalho. Os que vivem consumidos para cuidar dos seus idosos. Os que se disponibilizam para levar conforto aos outros, presencial ou à distância. Os que são contra o confinamento porque, se não se morre de Covid19, morre-se de fome. Os que estando positivos, não se isolam e, infectam outros, por estupidez ou por necessidade de sobrevivência. Os que são governantes já em “burnout” de 80 000 anos… Os que, ainda assim, em tempo de guerra não decretam tréguas à maledicência. Os que relatam espaços ajardinados de hospitais, agora transformados em depósitos de cadáveres refrigerados. Os que tendo os seus infectados contam ansiosamente os 14 dias desejando que passem depressa, sem complicações de maior. Os que se vêem obrigados a viver confinados com agressores, físicos e/ou psicológicos. Os que se vêem privados de abraçar e de beijar os seus Amores, por agora, ou para sempre. Os que se vêem privados do seu modo de sustento. E aqueles que embora tenham vontade de fugir, não têm para onde, porque não há para onde fugir. Ou melhor, sempre há! Fugir para dentro de nós. Fugir para o Outro….
28 de Janeiro de 2021