Um lugar (mesmo) estranho…
Diogo Faro assume-se como activista dos direitos das minorias, escreve livros e crónicas e parece que também entende ser comediante. Eu tenho lido algumas crónicas do Diogo Faro e não desgostei. A minha filha sendo seguidora nas redes sociais, quando ouviu falar que ele ía apresentar este espetáculo de stand-up comedy “Um lugar estranho”, ficou curiosa e desafiou-nos, a mim e à irmã para irmos ver. Em virtude da situação pandémica, o espéctaculo teve sucessivos adiamentos, e acabámos por ir em Novembro passado.
O espetáculo começou muito bem, com uma projeção de excertos de filmes de alturas muito criticas da História. Alturas de forte privação das liberdades mais fundamentais do Homem, pelo que achei que estando a começar bem, só podia continuar melhor. Engano de alma ledo e cego… Não me recordo já de ter estado alguma outra vez, num espéctaculo, o tempo todo com duas perguntas na minha cabeça: quanto tempo falta para isto acabar? e; quanto é que eu paguei por isto?
O DF não é comediante, nem actor, nem sabe por isso mesmo estar em palco. Embora pudesse, por respeito ao público, ter ensaiado. Há coisas que não sendo inatas, podem sempre aprender-se. Preferiu fazer rir recorrendo à piada fácil, no mínimo vulgar, apoiada o tempo todo no palavrão e em alusões a uma sexualidade, eu diria, muito focada na extremidade inferior das costas…Provavelmente, em virtude da falta de ensaios prévios, a espontaneidade resultou em que pretendendo apontar as falhas de uma sociedade discriminadora e machista, em vários momentos me incomodou com piadas que, no meu entender, revelaram isso sim o carácter machista do próprio, com desrespeito pelas mulheres, incluindo pelas que não são Portuguesas… O sacrifício com que muitas vezes foi para a cama com mulheres muito lindas, mas muito burras... Como em certas situações, isso o chegou a levar às lágrimas, enquanto elas, burritas, sem perceber o que se estava a passar, lhe enxugavam as lágrimas com beijos… E, grande risota…. Ou como as Espanholas sempre gritam na cama “Ay cariño…”
E podia continuar com os exemplos, claro está sem conseguir usar aqui o mesmo vernáculo. À saída, confesso que estava incomodada, porque não sabia o que a minha filha, seguidora do dito, teria achado de tudo aquilo. Mas a miúda estava decepcionada. Do que lia do DF, não estava à espera duma coisa daquelas, tão vazia, de tão mau gosto e com mensagens tão contraditórias. Na altura, apeteceu-me pegar no computador e escrever…, mas não o fiz pela minha filha. Afinal, ela tinha acabado de ter uma decepção, não era preciso estar a bater mais no ceguinho... E virei a página. Até agora, que se vem a saber que o DF, além de não ter jeito para comediante, de ter muita falta de gosto, e de não me ter parecido nada activista da igualdade de género, pelo contrário, também é daqueles que se borrifam para as indicações das autoridades de saúde e não cumprem a tão fundamental distância social no combate à pandemia.
De facto, surgiu nas redes sociais uma foto de grupo, com mais de dez pessoas abraçadas e a celebrar a recente passagem de ano, onde DF aparece de copo na mão, a apontar para a câmara. Ai as selfies, ai as selfies… Fica lá tudo, para o melhor e para o pior…
DF veio responder a um chorrilho de críticas, assumindo que “a festa de passagem de ano em questão foi um ajuntamento de pessoas arriscado e desnecessário”. Com certeza que foi, bem como noutra foto do final de Dezembro passado, onde o mesmo DF aparece novamente com um grupo de amigos numa esplanada na Costa da Caparica. Isto já por si, seria condenável. Mas não foi este comportamento errado e irresponsável que originou a enorme onda de críticas, que até já extravasou as redes sociais. É que o DF assinou uma crónica a 30 de Janeiro passado, onde, entre outras coisas, escreveu “… Quase todos os dias aparecem imagens de festas, algures em Portugal, de 20, 30 ou mais pessoas a cantar e dançar tão embebidos em alegria como egoisticamente alienados da realidade.” e “Entre as festas e o roubo de vacinas, que continuem a ser assim se conseguirem dormir bem à noite com isso. Mas, se não for pedir muito, evitem esfregar na cara de todos os outros”. E respondendo à onda de críticas, DF responde “Noutra ocasião, poderei adereçar o ódio que me é adereçado constantemente, diariamente, e de forma tão violenta, tanto de anónimos como de colegas, mas não é altura.” Vitimiza-se portanto, uma estratégia partilhada com André Ventura de cujas mentiras, aliás, já tinha falado…
Ora quando eu tomei conhecimento deste episódio, pensei que tudo se ajusta. … Como dizia Gandhi, “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado noutra”. Numa nota biográfica na “Esfera dos Livros” diz-se que DF “Gosta mesmo é de viajar. E, para isso, Diogo Faro precisa que os seus livros vendam bem …” Ora o DF descobriu que esta coisa de ser activista de causas sociais, afinal pode render muito…