As palavras
As palavras lidas ou escutadas, ditas, sugeridas ou caladas, porque o silêncio são também palavras, que se não dizem.
Sempre procurei as palavras. Escapam-se-me nos bons momentos “não se declina a felicidade”. Nos maus, procuro-as, nos livros, nos outros, em mim, outra vez nos livros, abertos ao acaso, tal a minha sede de palavras. As palavras nunca me falham. Mesmo essas, as que não se dizem.
Há quem se alimente de música, de pintura. Eu gosto de música, de pintura, mas alimento-me de palavras. Quase sempre as encontro nos livros “é isto! o que eu queria dizer, mas não sabia. Abençoado!” Outras, ressoam em mim, palavras simples ou complicadas, “tomorrow” que é um “tergiversar” que há-de levedar num “sim” ou num “não”, e tantas outras, que difícil é desembrulhá-las, dar-lhes o sentido da razão ou do coração, esse equilíbrio também custoso de alcançar.
As que não se dizem porque, tudo já foi dito e, uma palavra a mais pode destruir mais do que uma palavra a menos. Depois de dita a palavra não pode ser desdita, por muito que se tente, não pode. Mas também nada importante deve ser deixado por dizer. Uma única palavra omissa pode abrir passagem para tudo o que se não quer. É este o poder da palavra, para o bem e para o mal.
Amo palavras, alimento-me de palavras, chego a inventá-las. E também gosto de as casar com imagens. Palavras que são só minhas, que são só nossas. Palavras que me foram dadas e que reparto. As que ninguém percebe, as que consolam, as que amparam, as que alegram, as que magoam. As que podem matar e as que podem salvar. Tantas palavras. E tantas outras que se não dizem e também que se dizem. E tanto silêncio no que se não diz e também no que se diz…