Kismet
Nota: Kismet significa destino em Turco
A amante recordou-se de quando se sentara naquela mesma disposição entre aqueles mesmos dois homens em Compiègne, antes de eles partirem para o Suez, cada um ao encontro do seu Oriente. Pediu outro copo de vinho.
- Amor é o nome que se dá à tristeza para consolar aqueles que sofrem. Lembra-se? – perguntou ela a Cassim Bey. – E nós sofremos porque desejamos aquilo que não temos ou porque possuímos aquilo que já não desejamos.
- Lembro. Mas o sofrimento não é doença que tenha, espero, Madame?
- Não. Eu estou reconciliada com o eterno isolamento em que o meu coração permanece encerrado. Deve ser o meu destino, Casimir.
Nesse momento, La Poupée ergueu o véu. Os olhos das suas mulheres encontraram-se. A amante susteve a respiração. A esposa tinha um olho azul e o outro amarelo. Era o rosto da miniatura que Casimir havia comprado naquela loja de coisas orientais numa tarde de Outono no Palais Royal. O rosto que o havia inspirado a amá-la nessa noite de uma forma que ela nunca esquecera. O rosto que o atraíra a outro continente. O rosto que o levara a apagar a sua identidade. O rosto de uma boneca.
- O que acontece se possuímos aquilo que em tempos desejámos? - perguntou ela ao seu antigo amante.
- Aproximamo-nos mais do nosso destino. Tornamo-nos humanos.
- E se não conseguirmos?
- Então apenas pertencemos ao reino dos sentidos.
- O que é melhor?
- Isso depende do destino de cada um.
- Está então a sugerir que destino e amor são uma e a mesma coisa?
Nesse instante, La Poupée falou pela primeira vez:
- Não a mesma coisa, mas um atrai sempre o outro, Madame. E nunca é aquilo que esperamos. Mas a busca mantém-nos vigorosos. De outro modo, pereceríamos.
Alev Lytle Croutier in O Palácio das Lágrimas