Pontes
… a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice, “É isto o Amor in Pedro, Lembrando Inês”
Há quem defenda que a amizade é uma forma de amor. Mas que, ao contrário de alguns amores, a amizade nunca morre. Pois eu penso que se existem duas palavras “amor” e “amizade” (aliás não conheço nenhum idioma em que a palavra seja a mesma) é porque não devem ser sinónimas. A nossa vida é constituída por muitos compartimentos que incluem, entre outros, trabalho, lazer, família e também amizade e amor. E quantos mais tivermos preenchidos, tanto melhor. Se menosprezamos o amor em detrimento da amizade é, talvez, porque nos queremos convencer de que, porque não temos amor, ele não faz falta… Já o oposto, também pode correr mal porque, se o amor termina, ficamos sem amor e sem amigos…
Mas claro que amor e amizade têm pontos comuns e, por vezes e com sorte, até sujeitos comuns. E da mesma forma que há diversas formas de amor, eu acho que também há diversas formas de amizade, pois não nos relacionamos com todos os amigos de igual maneira. Seja como for, tanto o amor como a amizade são sempre pontes. E ao longo da vida que bom que vamos construindo novas pontes. Mas sempre pontes com dois sentidos, pois que se baseiam na reciprocidade. Também Neruda dizia “o meu amor alimenta-se do teu amor…” Pois também a minha amizade se alimenta da tua amizade. E, portanto, não acho que seja verdade que a amizade, ao contrário do amor, nunca morra. Tendemos é a esquecer que, em ambos os casos, é eterno enquanto … é recíproco. E a eternidade pode dar uma enorme canseira, mas é o que verdadeiramente importa.